World Press Photo: será o Google Street View uma maneira de fazer fotojornalismo?

Quer-me parecer que alguma polémica se instalou no World Press Photo com a atribuição de uma menção especial a Michael Wolf (um não-profissional) com "A Series of Unfortunate Events". Pode-se questionar ou até criticar este trabalho de multimédia mas não se pode negar o valor final da obra bem como o poder (cada vez mais) crescente das novas tecnologias no quotidiano do cidadão.

Se a verdade é que o World Press Photo prima pela qualidade também é um facto que a polémica instala-se ano após ano, dependendo dos critérios de avaliação do júri, ora mais liberal ora mais conservador. Com o destaque dado a este trabalho é valido dizer que estamos a criar novos limites e conceitos quanto ao tema do 'Fotojornalismo'. Poderemos assim, depois de assistir a este trabalho, questionarmo-nos se este trabalho é fotojornalismo, que nova forma de 'revelar' o mundo 'através' da internet é esta, que compromisso existe com a realidade e a veracidade dos factos, que mensagem final é que sobressai afinal? Há uma série ilimitada de questões com o reconhecimento deste trabalho...

Poderemos, também, falar de 'privacidade', manipulação, percepção do especator/observador, etc. mas algo que quero referir em especial é a 'apropriação'. Não devemo-nos esquecer que estas fotografias foram captadas pelo Google e pelas câmaras do Google Street View. Michael Wolf revelou que, após esta pesquisa no programa do Google, apenas limitou-se a colocar um tripé em frente do monitor, colocou a máquina de forma a fazer um 'simples' crop à imagem e fotografou.

Então a par deste processo de pesquisa e captação de imagem poderemos dizer que então a menção deve-se ao facto de como Michael Wolf explicou e contextualizou o seu trabalho?

I think a large part of our future will be the curating of all these images. Can you imagine the number of images stored in our world today? It’s unlimited. In 100 years, there will be jobs such as ‘hard-drive manager’, which will be in charge of findinga hard-drive from 2010 and 2011 and will have to develop software to sort these images. And then there will be art projects and sociological projects done out of these images. The whole idea of curating this limitless mine of images that’ve created has a huge potential, and I’ve just scratch the surface with Google Street View.”

– Michael Wolf in an interview with the British Journal of Photography

Como disse anteriormente não se pode negar o valor final da obra pois, Michael Wolf revela-nos um futuro já previsível quanto à força e razão das imagens captadas espontaneamente na rua da nossa casa, num jardim, na cidade ou qualquer outro local.

É de referir também que M. Wolf escolheu uma cena, fotografou-a, intrepertou-a e partilhou o que nela via, tal como qualquer fotojornalista. O Google não efectuou este processo, limitando-se a ser 'frio' na captação do momento. Não querendo ser patidário nesta questão do prémio não deixo de salutar:

  • que o autor teve alguma 'sorte' com o júri que encontrou este ano (pois também foi a primeira vez na história dos prémios que o galardão máximo foi atribuído a um retrato.)
  • que o trabalho marca uma nova era e uma reedifinição do conceito de 'fotojornalismo'