José e Pilar: o filme


Confesso que nunca fui apreciador da literatura de Saramago, de algumas ideias pessoais sim, muitas delas  compreendi (talvez) e até partilhava da mesma opinião; quanto às folhas cheias de letras vindas de um ponto qualquer desconhecido e acabando num outro do infinito, sem pontuação, sem parágrafos, sem espaço para descansar; com repetições, não, não era grande fã de Saramago.

Nunca achei que Saramago tivesse estofo ou capacidade para ser Nobel da Literatura mas, a verdade é que o foi surpreendendo muitos; pergunto-me se António Lobo Antunes não será melhor mas esta questão não é a de momento.

Nem nunca achei que Saramago fosse um mau cristão mas um crente com as suas dúvidas pessoais e no seu direito e legitimidade. Se a Igreja não gostava isso será problema deles, negar a dúvida a um ser humano e "forçar" o fundamentalismo é que parte de um princípio errado.

Quero com isto dizer que Saramago foi como todos nós, com outra capacidade de entendimento, um diferente nível de cultura, polémico, arrogante, questionador da "verdade"; mas há algo que verdadeiramente nos toca enquanto espectadores e aí o poder da imagem é inquestionável. No trailer do filme documental sobre a vida de Saramago com a sua mulher Pilar existe um momento marcante, forte, intenso  (1:28 mt até 1:38 mt) que nos leva a realmente a sentirmo-nos humanos e ganhar percepção da nossa fragilidade, daqueles que nos rodeiam e que há muito mais por detrás daquilo que conseguimos visualizar. Mais do que toda a profundidade poética inserida no presente espaço de tempo é o poder inquestionável da imagem.