Pérolas pedagógicas por Nuno Crato



Que este governo é rico em "curiosidades" isso é do entendimento geral do cidadão mas a sua capacidade (ainda) em surpreender o mesmo atravessa as barreiras do impensável e ainda bem que assim é porque para desgraças já basta o elo mais fraco do governo ser (quase) agredido na Covilhã ou escutar os ministros Coelho e Gaspar sobre austeridade. (ainda hoje nem sei como se escreve esta palavra...)

Nuno Crato decidiu que há objectivos a cumprir por ano e não por ciclo e como tal há uma lista curiosa de metas estabelecidas e que obriga alunos e professores a cumpri-las:

1 - minimos de velocidade de leitura para um aluno da 1ª classe: 55 palavras por minuto.

Ora ca está, não sei eu quem decidiu inventar esta maravilhosa pérola mas comecemos com um raciocínio lógico porque eu não tenho nem tanta velocidade para ler/compreender como aquela que o governo gostaria que eu tivesse; um aluno da 1ª classe terá pelos seus 5-7 anos, aproximadamente variando os casos, e já algumas bases de conhecimento.

Surge-me então a questão: como é que alguém com esta idade consegue ler e compreender 55 palavras em um minuto? Estaremos a tentar bater alguém recorde do Guinness para impressionar a Troika e família? Mal é complicado entender os desenhos animados no canal Panda quanto mais ter esta capacidade de compreensão num texto em tão pouco espaço de tempo? E o que é que o governo pensa fazer aos alunos que APENAS compreendam 50 palavras num minuto? A bandalha de deputados na AR, por vezes, nem uma frase mais demorada entende quanto mais isto? Talvez usando expressões mais "rústicas" se consiga desenvolver a capacidade de compreensão nos alunos...



2 - imposição de uma lista de livros obrigatória

Neste caso, é o governo que acha o que é melhor e adequado esquecendo-se que são os professores que devem definir quais os melhores textos (ou outras bases) para um melhor ensino segundo uma possível lista referencial definida pelo Ministério da Educação. Tudo igual porque são todos iguais e se sabem ler 55 palavras em um minuto também sabem ler os mesmos textos e manuais.

3 - exames no 4º ano

Pois senhores, se já é mau ter exames na época de adolescência e comprometer um curso/carreira por um tipo de avaliação (que apesar de ser contínua transparece ser pontual) quanto mais a estes jovens que ainda estão a aprender a largar as rodas de apoio da bicicleta... É incompreensível gastar dinheiro com estes exames pois não será este tipo de avaliação que irá melhorar a educação nem o nível de cultura dos nossos jovens e muito menos ter alguma noção da realidade da qualidade do ensino; não é assim que se educa, certamente, pois outros métodos de ensino existirão muito mais sofisticados e menos dispendiosos do que esta medida.

4 - aluno do 4º ano em risco de chumbar tem menos (15) dias de férias

Assim sendo, o problema de um ano lectivo inteiro resume-se a 15 dias de pressão para comprimir tudo o resto para trás na tentativa de garantir a nota mínima para impressionar a Europa (Bruxelas); se é para isto senhor então para quê estes exames? Mais vale poupar os milhões que gasta em papel porque para isso já chega a polémica nos últimos exames nacionais de Português na qual a prova ainda não era distribuída pelas salas de aulas deste país e já os alunos sabiam as perguntas a sair na prova.





Bruxelas, senhor ministro, disse à dias que o mal de Portugal é a qualidade de ensino e que tal coisa não se resolve com exames mas sim formação para os professores bem como outras directrizes para a educação cientifica e humanista dos nossos jovens

5 - alunos do 1º ano a contar até 100, no 2º ano contar até mil de 2 em 2 ou 100 em 100

Senhor ministro, as crianças não são nenhum mecanismo onde é depositada informação em bruta e descodificada por obra e graça do Espirito Santo porque nós NÃO sabemos ensinar neste país; se não sabemos ensinar não podemos ter nem pedir este nível de exigência aos alunos, é incompreensível e revela, da sua parte, uma total incapacidade para exercer esta pasta que se encontra ao abandono à muitos governos atrás e que para marcar a diferença ainda vem terminar com o programa das "Novas Oportunidades" e arruinar o "Parque Escolar".




Senhor ministro, por mais caro que o "Parque Escolar" tenha sido não se esqueça que criaram-se (ao fim de 3 décadas, finalmente) condições para os alunos terem todas as facilidades em aprenderem mais e melhor; coisa que não acontece pois decidiu colocar 30-40 alunos nas salas (renovadas) e que foram concebidas para turmas mais restritas. Deu-se tecnologia, facilitou-se o ensino com meios, criou-se condições e melhorou-se o espaço...  Mas o governo está mais preocupado em criar comissões de inquérito para saber se as paredes deviam ter mármore, cimento ou outro qualquer material mais barato oriundo de Kripton.


Assim senhor ministro é fácil criticar o anterior governo bem como projectos os projectos ambiciosos e necessários (apesar do custo elevado, veja o caso dos países nórdicos e as condições de ensino), assim é fácil governar pois sendo um técnico percebe tanto de educação como eu de "cebolas"...

Mas oiça, isto sou eu a falar. E quem sou eu para falar se ninguém me ensinou a ler 55 palavras num minuto?