Nozolino, Usura.


Desde a semana passada que a ânsia é alguma e bastante óbvia; o mestre Nozolino está por Lisboa e prepara-se para uma rara aparição em debate, impressionante não?

"Usura é uma exposição composta por 9 trípticos de fotografias a preto e branco, e distingue-se na trajectória artística de Paulo Nozolino por ser a primeira mostra em que o fotógrafo reúne a quase totalidade dos trípticos que realizou até hoje.

O primeiro deste trípticos foi feito em 1999, momento que marca uma evidente inflexão na obra de Paulo Nozolino, e que se intensificou nos últimos anos, na procura de uma prática da fotografia que pende para os sentidos (inter)textuais da imagem, por outras palavras, uma visualidade que procura o exercício especulativo e ficcional, que assume o valor dialéctico e sugestivo das imagens como formas e meios legítimos - e necessários - de representar e escrutinar a realidade e, consequentemente, a história, as suas representações e as suas memórias.

O título baseia-se no título homónimo de um poema, o Canto LXV, de Ezra Pound. Muito para além de uma reacção ao contexto actual de crise económica e financeira, a exposição Usura ensaia um incisivo comentário crítico sobre alguns dos acontecimentos mais trágicos e traumáticos da história moderna e contemporânea. Através das imagens e títulos de cada tríptico encontramos referências mais ou menos explícitas ao Holocausto, ao declínio da Europa, à invasão do Iraque, ao atentado às torres gémeas e à catástrofe de Chernobyl, mas também a temas menos concretos no tempo e no espaço, como o desaparecimento do mundo rural, a religião, a morte e a imigração.

Esta exposição confirma os princípios conceptuais, estéticos e éticos que têm motivado uma das obras mais singulares do panorama artístico português das últimas décadas. Usura acentua o compromisso de Paulo Nozolino com uma atitude atenta e crítica perante o mundo, apelando à memória dentro da actualidade e à compreensão da actualidade dentro da história, ao mesmo tempo que reafirma o valor primordial do carácter intempestivo e moral com que devemos impregnar todas as imagens que queremos que venham a fixar a verdadeira (e inglória) história dos homens."

Sérgio Mah, curador

O fotógrafo encontra-se no Marquês de Pombal, no BES Arte e Finança e prepara-se para dar um debate sobre a obra; a não perder!